sexta-feira, 24 de julho de 2015

Por que Birdman é um dos filmes mais geniais dos últimos anos ?

Birdman começa com um trecho extraído de um poema da autoria de Ray Carver (Late Fragment), encontrado no livro "A New Path to the Waterfall". Esse, um dos últimos escritos de Carver que morreria aos 50 anos com câncer, diz o seguinte:

"E você, conseguiu o que queria da vida apesar de tudo?
Eu consegui.
E o que você queria ?
Poder chamar-me de querido, e ser amado neste mundo"

Logo em seguida, a edição do filme faz uma reposição das letras do logotipo do filme com as letras que estavam em tela e temos isso:


É difícil ser categórico em dizer sobre o que Birdman trata, porém não seria pretensioso dizer que é um filme sobre renúncia, um retrato da contemporaneidade e sobre amor. Iñárritu não me deixa mentir logo nos primeiros minutos de projeção.

Para situar a coisa toda, Birdman é um filme que faz uso magistral da metalinguagem. Acompanhamos a história de Riggan Thomson (Michael Keaton, brilhantemente) que nos anos 80 teria brilhado interpretando uma franquia famosa de super-herói, chamada Birdman (não, não é o personagem da Hanna Barbera). Porém, ao ter recusado fazer parte de Birdman 4 (na realidade do longa, o filme Birdman 4 teria sido rodado a 20 anos atrás, o que é uma sútil referência ao fato de Batman o Retorno de Tim Burton ter sido lançado a 22 anos) sua carreira caiu no ostracismo e esquecimento do público em geral. O filme começa com Keaton ajeitando os maiores detalhes alguns dias antes, da sua estréia na Broadway com a peça "O que falamos, quando falamos de amor" inspirado num texto de Ray Carver.


Importante dizer que a principio, quando o filme começa e Michael Keaton esta realizando uma entrevista no seu camarim, existe essa citação ao filósofo/escritor Roland Barthes como vocês podem ver na imagem:


Acontece que para Barthes, a escrita é a destruição do autor. A grosso modo, para ele quando um fato é descrito através dos nosso signos de linguagem para tentar retratar o real com ideários subjetivos que temos a cerca das coisas,  o autor (morre) e a escrita começa. Existindo essa supressão do autor em prol da linguagem, não existe textos "únicos" e sim re-interpretações deles, e sempre será assim.

O que isso acrescenta para o filme é novamente, mais uma opção de metalinguagem genial. Riggan Thomson não só interpreta a peça de Ray Carver, ele a dá novas conotações, tanto por conta de seu personagem quanto pelo ator na vida real, Michael Keaton. O texto de Carver faz referências toda hora a vida de Michael Keaton, de forma genial.


Nesse diálogo da entrevista é interessante notar a visão pessimista de Iñarittu acerca dos veículos midiáticos como um todo, quando a repórter se limita a perguntar se Riggan teria usado "sêmen de porco" para rejuvenescimento facial. Em seguida, um outro entrevistador pergunta se Keaton teme que as pessoas achem que ele esta fazendo essa peça somente para combater a impressão de que ele é um herói ultrapassado. Keaton responde categoricamente que não, mesmo que essa negativa não seja de fato verdadeira, pelo menos não durante esse momento do filme.


Nesse momento somos apresentados ao personagem de Edward Norton, Mike Shiner. Em primeiro lugar, vamos a algumas coisas que acho legal ressaltar:

- Mike Shiner é apresentado como uma sugestão de ator para ser contratado, depois que o primeiro se machucou durante os ensaios da peça. Durante a conversa de Keaton e Galifianakis sobre a possível contratação do mesmo, Keaton diz algo como: "Pensei que ele estava ocupado, ou fazendo um novo..."  ao passo que Galifianakis interrompe: "Não.. ele saiu ou foi expulso." Isso pode ser uma nítida referência ao fato de Edward Norton ter sido eventualmente impedido pela Universal de interpretar uma sequência do filme Hulk (2008).

- O sobrenome "Shiner" é mais um divertido e sútil sinal da metalinguagem do filme, que faz menção ao temperamento errôneo e explosivo de Edward Norton, sempre querendo ser o centro das atenções (tanto no filme quanto na realidade).

-Assim como Riggan Thomson é Michael Keaton, Mike Shiner é Edward Norton.

O que acontece a principio é que Edward Norton é um ator de método, até as últimas consequências. O seu personagem não se permite se sentir vivo e sendo real fora dos palcos, pois sua persona é mutável. A persona verdadeira de Edward Norton é toda aquela ou qualquer uma que ele possa interpretar num palco hoje a noite. É por isso que ao ser sempre indagado por Sam sobre "Verdade ou Consequência ?" Mike sempre opta por verdade, alegando que a mesma é sempre mais interessante.

Porém o quão distorcido é a ótica de um homem que para continuar vivendo como um ser humano, precisa ver a si mesmo comportando-se como outra pessoa ? Talvez seja este o principio básico, inevitável e motriz por trás da diligência de atores num teatro, no cinema. O fato de não fingir, não omitir ou emular e tomar para si até o limite a máscara de outrem. Porém isso acarreta um sério processo de desumanização fora dos palcos, pelo menos é o que o filme tenta dizer no começo:





Quando Mike beija Sam a principio, a mesma se afasta como se houvesse experimentado um beijo sem vida, sem expressão. Ela para na porta de saída do terraço e faz novamente a pergunta "Verdade ou consequência?", e mais uma vez Mike escolhe pela Verdade (chega ser cínica a insistência do personagem por essa virtude). Já no teatro, Sam pergunta a Mike como ele consegue fingir ser outrem quando esta lá embaixo, todas as noites, e o mesmo afirma que já não finge mais quando está lá. Pode fingir em outros lugares, mas não ali.

É então que os dois se beijam intensamente pela primeira e única vez durante a projeção. E reparem que isso acontece justamente dentro do teatro, o piso sagrado e inviolável pro ator... o que nos deixa a pergunta: ele estava atuando ou sendo sincero naquele momento ?

Mike serve de contraponto no primeiro e no começo do segundo ato para Keaton. O personagem durante o segundo ato não volta mais ser mostrado durante o filme, tendo sua figura metaforicamente sendo substituída pela da crítica do Times. O contraponto reside exatamente na máxima de que Norton simplesmente não se importa com que os outros irão pensar dele, principalmente a critica. Ele não teme a crítica porque esta sendo sempre segundo sua ótica, real enquanto atua, portanto esta protegido pelos frutos do seu próprio trabalho. Ele serve de contraponto para Keaton entender o que é a arte verdadeira e perceber como seus parâmetros de busca por ela estavam equivocados. Por conta dessa devoção ao trabalho, é que ele é amado pela crítica, faz rios de dinheiro e todas as outras coisas como  Galifianakis diz em certo momento da projeção.
O fato de Mike também ser pouco mostrado a partir do segundo ato, se deve ao fato que o filme se passa tentando acompanhar a ótica de Riggan, que por conta de seu ego nunca esta presente e nem repara nos presentes que estão ao seu redor.

Em relação a Shiner e a Birdman de modo geral, podemos dizer sucintamente:



"A popularidade é o primo pobre do prestígio"


                       Keaton/Thomson e a busca por aceitação

O filme todo é sobre como Michael Keaton se vê, e sua busca incessante e árdua para fazer com que o mundo também o veja assim. Porque na realidade ele é apenas um produto, uma mercadoria criada em um filme dos anos 80, que já não corresponde mais nem aos anseios da nova geração (isso é mostrado quando uma mulher mais velha pede para tirar uma foto com Keaton enquanto seu filho pergunta: "Quem é esse?").

Nesse sentido o trabalho de montagem é simplesmente genial porque faz duas alusões:

- Keaton é simplesmente impressionado com o fato de que é um grande ator, mas que ninguém ainda sabe disso. Por conta de alimentar tanto esse ego, a câmera do filme esta sempre o acompanhando e por vezes deixando as outras pessoas fora do enquadramento, em outros pontos geográficos do cenário enquanto Michael perambula pelos corredores do teatro. Simplesmente para exemplificar que para o personagem não existem cortes até a estréia da peça, tudo é pressão, e que obviamente, o ego de Riggan o impede de observar as pessoas ao seu redor.

-A ideia de que a arte é uma virtude humana subjetiva, portanto deve sempre estar acompanhando quem lhe interpreta para que garanta ao público de que estamos vendo um verdadeiro espetáculo de arte, desde dos seus pormenores até a estréia.

Emmanuel Lubezki que já tinha trabalhado com Alfonso Cuáron no premiado Gravity, e em Children of Men, nos entrega também essa peça de arte lindíssima, alternando a paleta de cores quentes para frias para indicar estados lúcidos e estados 'brutos', metaforicamente em relação aos personagens. Enfim. Todos os créditos para a parte técnica.

Mas voltando.
Toda sequência na Times Square pra mim, é genial. É nesse ponto também ao meu ver, que Keaton começa sua redenção para culminar no fim do filme.



Primeiramente, acho legal ressaltar alguns contrastes (ou não). Enquanto Michael Keaton esta atravessando a calçada, ele é obrigado a passar em frente a uma apresentação de tambores da Disney, que estava sendo realizada nas localidades. A cena de Keaton de cueca atravessando a rua com o logo da Disney no fundo não só é engraçada como triste de acordo com a reação das pessoas.
Um pouco antes um homem diz para Riggan: "Me de um autografo! Ahhhh, vamos. Não seja um imbecil", desconsiderando totalmente o fato de uma pessoa estar sendo ridicularizada na rua por estar praticamente nua. Estamos nos tornando tão consumistas e cegos que não nos privaríamos de tornar ridícula a figura de outro ser humano, para satisfazer nossos anseios mais banais. Quantas vezes você já viu imagens grotescas de cenas de morte, sendo espalhadas por grupos em Whatsapp's da vida, com intuito de choque/teor 'cômico'? Pois bem
.O engraçado é que depois dessa cena é dito que um vídeo foi gravado dessa caminhada vexaminosa de Keaton na Times Square, e o vídeo em menos de uma hora atingiu 1 milhão de visualizações, ao passo que Sam diz para o pai: "Acredite ou não, isso é poder". Ao meu ver se este incidente houvesse acontecido no inicio da projeção, Riggan poderia ter dado mais atenção ao fato, mas não. Ele simplesmente se sente envergonhado, ainda não que pelas razões certas. Lembrando sempre da frase: " A popularidade é o primo pobre do prestígio".

Ao meu ver esta é a primeira cena de redenção do personagem e do ator em si, Michael Keaton. É como uma queda que na verdade é um salto quântico em termos de arte. É uma metáfora para renúncia de conforto do ator, se apresentando totalmente nu diante da plateia. O ator esta simplesmente sem nenhum artifício externo que não seja seu corpo, e esta totalmente exposto para todos. Ao meu ver essa foi a primeira vez que vi Michael Keaton atuando de verdade nos cinemas, por isso considero outro forte e eficiente uso da metalinguagem do filme que proporciona cenas como essa. Porém Keaton ainda não percebe isso e acha que tudo esta ocorrendo como um verdadeiro desastre.

É importante se ater também no texto de Ray Carver que é dito aqui durante a cena:
"Qual é o meu problema?
Porque preciso implorar para que vocês me amem ?
Eu só queria ser aquilo que vocês queriam
Agora passo todos os dias tentando ser alguém que não sou."

O trecho é uma nítida referência a situação de Keaton/Riggan enquanto ator, buscando aceitação e se transformando em algo descartável, irreconhecível depois disso. Esse texto ainda vira a ser citado no fim do filme com alguns complementos.

Ao confrontar a crítica num dos diálogos mais sinceros do filme, esse seria o complemento de seu primeiro passo para se tornar um ator de verdade. A conversa toda deu a ultima motivação a Riggan e o compreendimento de que não importa o que ele fizesse, a crítica não gostaria. Então ele iria ser o que ele queria ser no palco, simplesmente ignorando a tudo e a todos.



Há particularmente uma cena engraçada depois da cena do bar. Enquanto Keaton vai numa especie de "mercado psicodelico" para poder comprar bebida, existe um mendigo do lado de fora que não para de falar frases de efeito:


A cena é uma leve alfinetada de Iñarittu nos trailers de filmes de super-heróis, que precisam constantemente estarem pontuando cena pois cena no intuito de criar uma atmosfera, evidenciando a mediocridade dos seus roteiros. E as milhões de luzes também podem ser interpretadas como uma metáfora para a intoxicação de informações que esses filmes trazem. E é aqui nesse ponto que o filme dividiu muitas pessoas.



  Birdman é um filme contra os filmes de super-heróis?



Sim e não. É muito básico e sintomático dizer que Birdman é um filme contra super-heróis, e ponto final. O filme, principalmente na sequência da imagem acima, faz uma crítica de modo geral a industria e não somente aos super-heróis. Se o filme tivesse sido rodado nos anos 80, a crítica teria sido feita aos filmes de ação. Portanto, não dá pra classificar de supetão as críticas do filme.

O filme vê sim, com um olhar depreciativo e pessimista em relação ao publico que cada vez menos reconhece o esforço pela arte e valoriza apenas o medíocre. Vi muitas pessoas dizendo que Iñarittu foi prepotente em dizer que os filmes de super-heróis não valorizam a verdadeira arte, e pode ser que tenha sido ou não, mas o fato é, ele nunca disse que o filme DELE é uma verdadeira arte. E esse é o ponto. Arte de verdade é o que Michael Keaton fez nesse filme, sem nenhuma segurança de retorno, no ostracismo, levando seu personagem as últimas consequências interpretando a si próprio e não Robert Downey Jr. fazendo seus filmes com cachê de 50 milhões de dólares, aonde ele simplesmente dá a minima pro que vai sair disso. Acredito que tenha sido isso que Alejandro queira ter dito, o que também não anula o fato de que Downey Jr. pode sim um dia vir a fazer arte com algum valor agregativo.

É importante ressaltar que até nisso o filme tem pequenos cuidados para não gerar interpretações equivocadas. Percebam que existem duas visões de arte no filme:

Arte advinda da elite intelectual: Defendida pela mulher do jornal Times, do qual o filme faz questão de mostrar que não concorda.

Processo artístico advindo da entrega de quem a faz em nome da própria arte: Mike Shiner defende isso e aos poucos Keaton percebe que essa é uma das unicas maneiras de fazer arte real e sincera.

                        E o final ? Michael Keaton morre ? O que é o                                             cometa ? A cena da praia ?

O final de Birdman é simplesmente brilhante pelo fato de responder e ao mesmo tempo, deixar em branco várias questões. Mas segundo meu ponto de vista, vou tentar esclarecer algumas delas:



No começo do filme, temos essa cena aonde uma série de águas vivas estão jogadas na areia de Malibu. Um breve corte e vemos um "meteoro" caindo dos céus, rompendo as nuvens quando de repente, a cena é cortada novamente.

A cena das águas vivas é sobre uma lembrança de Riggan, aonde ele diz para esposa dele que durante um aniversário da sua filha, aonde ele teria traído a esposa e tendo sido descoberto no mesmo dia, Keaton teria tentando se matar afogado no litoral de Malibu. Porém ao tentar se afogar o mesmo sente como se houvesse "frigideiras quentes" contra suas costas, aonde mais tarde ele percebe que na verdade eram águas vivas.

Porém, como mostrado no inicio da projeção, as águas vivas estão afastadas do mar, jogadas na areia (o que contraria o relato de Riggan, pois não teria se queimado acidentalmente com águas vivas na areia. Elas estavam no mar). E em seguida a cena corta para uma imagem de algo que se assemelha a um cometa caindo dos céus o que indica nitidamente que aquela não é de fato uma lembrança e sim um sonho.

Simbolicamente há uma questão muito forte no que diz respeito a uma comparação com Icaro e sua tentativa de voo para sair do labirinto do minotauro, para que escapasse da ilha de Creta. Icaro assim como Birdman tem suas asas feitas de modo artificial e aspira a grandes feitos, que no caso do personagem mitológico, é a questão do voo que para Riggan significa ser reconhecido, ser amado. Porém Icaro tendo suas asas sendo feitas de cera, as vê sendo derretidas e caindo abruptamente sobre o mar, outra forte alusão a praia que aparece nos sonhos. Para Riggan, é a mesma coisa: o preço por falhar na sua tentativa de ser grande é a sua morte como artista.

A água viva sozinha na praia representa, pelo fato da mente de Keaton ter associado isso aos eventos, sua falha como pai, como marido e como ator. Ela representa isso pois esse episodio foi marcado na vida do personagem como sua tentativa mal sucedida de suicídio, e simbolicamente só representa seus erros.

E percebam que Icaro no começo do filme esta caindo, ou seja, a principio o primeiro sonho de Riggan é sobre queda, sobre o medo de que ELE fosse esquecido por conta de seus erros, apagado da história.


Então voltamos para o teatro, na estreia da peça. Keaton pelas razões aqui já citadas, simplesmente entende o que significa a arte ou pelo menos, entende o que as pessoas que ali estavam consideram como arte verdadeira. E então se entrega na redenção máxima do personagem no teatro, quando o mesmo dá um tiro no seu próprio nariz, espalhando o próprio sangue pelo palco.
Não vamos nos esquecer que Edward Norton fez a mesma coisa com seu personagem em Clube da Luta, atirando de raspão contra a própria têmpora, ainda que por motivos diferentes, mas ainda sim para tentar matar o seu alter ego (no caso Tyler Durden. No caso de Birdman, simplesmente ele: Birdman).

Depois desse gesto insano, toda a crítica e todos no teatro levantam para aplaudir Keaton calorosamente, inclusive a crítica do Times sai do teatro engolindo seu próprio orgulho, evitando bater palmas na frente dos atores. Todos ovacionam a peça.



Ai então, temos essa cena no final do filme:


Essa cena é praticamente a mesma do inicio do filme só que agora, a praia esta repleta de pássaros sobrevoando as águas vivas. Lembra que as águas vivas eram  o sinal de fracasso de Riggan ? Lembravam a morte, pois teriam aparecido para ele depois de uma tentativa de suicídio. O que essa cena nos diz é que agora, quem esta morto é Birdman, não Riggan/Keaton. Finalmente, Keaton conseguiu a aprovação que tanto almejava e acabou com a sina de ser um ator que só interpretou um grande personagem na sua vida (assim como é na vida real).

E percebam também que agora o dito "meteoro" que seria Icaro, não esta mais caindo, ele esta em ascensão, passando pelo céu como uma estrela cadente, que analogamente, é como carreira de Keaton agora que sera eternizado.



O que vem a seguir pode ser interpretado de dois modos: Keaton morreu realmente na cena do teatro (o que eu não acredito). Mas se morreu, podemos dizer que a cena da plateia o ovacionando é sim verdadeira porque é depois dela em que entram um dos primeiros cortes do filme (quebrando a narrativa). Portanto o personagem de um jeito ou de outro, conseguiu aprovação unânime.

Keaton não morre na cena do teatro: é o meu final. Como o filme é muito, muito metafórico, resolvi escolher esse final porque não creio que o fim do filme seja tão simplista como alguns apontam.

Keaton acorda no hospital com uma máscara que lembra a máscara de Birdman, e ao tira-la e joga-la fora quando vai ao banheiro, vendo o próprio Birdman pela primeira vez no filme agindo como um humano sem poderes, prova que o seu ego na verdade já esta morto. Agora ele esta pronto pra fazer a verdadeira arte.

A cena final na minha opinião é uma outra metáfora para alusão de que agora, a filha finalmente o enxerga como ele o é: um grande ator. O fato de Michael Keaton ter se livrado antes do Batman, ops, Birdman, ao ir no banheiro e em seguida a filha olhar para os céus como se estivesse admirada com algo que vooa, quer dizer que agora os voos de Michael Keaton/Riggan não dependem mais do personagem Birdman, porque ele sozinho pode alçar o voo que quiser.

E por isso, o poema de Ray Carver é tão importante:

"E você, conseguiu o que queria da vida apesar de tudo?
Eu consegui.
E o que você queria ?
Poder chamar-me de querido, e ser amado neste mundo"


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Magnolia: Análise simbólica do filme

Magnolia cronologicamente é o terceiro filme da filmografia do gênio Paul Thomas Anderson, tendo sido lançado em 99. Pra mim, mesmo sendo muito difícil falar de superioridade em questão de trabalhos do Sr. Anderson, este continua sendo o seu mais significativo/emocional filme.

A história apesar de dar enfase à alguns núcleos, mostra a vida de várias personagens que se interligam emocionalmente, cada um desempenhando papel na vida do outro. Sendo mais de 7 personagens que o filme trata com quase mesmo espaço de tempo, não é difícil entender porque o crítico Jonathan Rosembaum descreve o filme como uma "bagunça maravilhosa".

Primeiramente, pra evitar quaisquer spoilers (mesmo com o filme tendo sido lançado a mais de 10 anos!) ou eventuais decepções, recomendo fortissimamente que assistam o longa antes de qualquer coisa e voltem até aqui depois. O filme lhes despertarão um grande sentimento reflexivo e uma vontade de compartilhar suas impressões com as outras pessoas, portanto não me preocupo pois sei que muitos voltarão para se manifestarem após terem assistido o longa.

Então, sem demoras, a análise do filme.

                            

                                                    Simbologia do filme

  
Primeiramente, o narrador começa o filme abordando uma série de fatídicos assassinatos em que é nítido que tenha havido por trás deles qualquer senso de "coincidência", por causa da tamanha estranheza em que se deram esses fatos.
Em primeiro lugar, acho importante ressaltar alguns numerais que irão aparecer muitas vezes durante o filme, o '8' e o '2'.

Essa é a primeira vez que o número aparece no filme, durante o relato de suicídio de Craig Hansen.
E mais algumas vezes depois disso:



Se vocês pararem para analisar com calma, verão que existem ainda outras referências ao número 82 durante a projeção (muitas delas)
. O que significa para o filme o algarismo 82?

Êxodo 8:2

DEPOIS disse o SENHOR a Moisés: Vai a Faraó e dize-lhe: Assim diz o SENHOR: Deixa ir o meu povo, para que me sirva.
É importante ressaltar esse trecho bíblico, mas não se preocupem pois irei destrincha-lo mais a frente. 
O narrador diz no começo do filme em relação aos assassinatos, a seguinte frase: "Na humilde opinião deste narrador, isso não é algo que simplesmente aconteceu. Não pode ser uma 'daquelas coisas' . Não pode ser simplesmente isso. É difícil expressar o que quero dizer. Não foi uma mera coincidência. Essas cosias estranhas acontecem o tempo todo."
Ao meu ver muitas pessoas adotam o conceito de coincidência para tentar racionalizar certos eventos de suas vidas. O significado da palavra coincidência exprime que exista uma causalidade entre as coisas que ocorrem de forma simultânea, mas para que exista de fato um efeito causal não seria necessário algo que oferecesse as condições para que isso acontecesse ?
As coisas não simplesmente acontecem, pelo menos não na visão de Paul Thomas Anderson. A alguns anos atrás houve no meu bairro um caso de assalto a uma padaria, aonde o ladrão chegou a disparar alguns tiros (que eu me lembre não acertou ninguém). Na mesma noite acompanhado de um amigo, precisei comprar algumas coisas, e perto de onde estava havia essa padaria e um mercado. Instintivamente, naquele dia, optei por ir comprar minhas coisas no mercado o que não era usual pois sempre comprava na padaria que era mais próxima da minha casa. E contrariei também a preguiça do meu amigo que relutava em percorrer a distância do trajeto até o mercado. E alguns minutos depois quando estamos saindo do mercado o barulho dos tiros, bem audível, vindo da padaria. É um instante de decisão que de repente se torna uma decisão quântica, um passo pra vida e um piscar de olhos pra morte. Se estivéssemos lá, poderíamos ter tornado tudo diferente e quem sabe estaríamos mortos também. O que houve comigo aquele dia que impediu que certas decisões fossem tomadas ? Foi a mesma coisa que ocorreu com o Senhor Fray no inicio do filme, que nunca carregava a arma, mas naquele dia a arma estava carregada. E foi ela a responsável pela morte do filho, e não em si a tentativa de suicídio do mesmo. Foi isso ??? Quem pode responder ??


Alguém me disse certa vez que "a realidade é bem mais estranha que a ficção". "Pense em qualquer coisa na sua cabeça, a mais bizarra... então: ela está acontecendo agora no mundo". Instinto e coincidência não explicam tudo no mundo, mas o que você faz e como você age isoladamente, isso pode vir a mudar a sociedade, ou a vida de terceiros (materialismo dialético). E esse é um dos princípios básicos que o filme defende (inclusive toda a estrutura narrativa é sobre como influenciamos na vida de terceiros).

Magnolia é um filme sobre perdão, amor e família. É interessante relembrar que sempre estamos influenciando a vida de terceiros, mesmo quando agimos isoladamente e isso o filme mostra bem: todos os personagens são bem individualistas, não por conta das mesmas razões, mas todos estão vivendo suas vidas a par de tudo (que inclusive faz sentido quando você escuta e acompanha a letra da música "One" de Aimee Mann, que fala sobre o individualismo e como isso afeta a vida de todos).



A passagem bíblica referente a Êxodo 8:2, é sobre a redenção do povo de Israel sendo liberto pelo Faraó que nutriu uma longa história de ódio e ataques aos hebreus, perpetuando uma passagem de escravidão que teria durado 80 anos, até o seu final.

Vejo que aqui no filme, a passagem bíblica é usada como uma metáfora para deixarem ir seus problemas e para que se abandone seus tormentos em nome de uma renúncia a algo maior. O capítulo 8 versículo 2 do Êxodo narra o diálogo entre Javé e Moisés, aonde Javé pela primeira vez manda Moisés anunciar as pragas que poderão acometer o Egito caso o Faraó não liberte o povo escravizado, e nesse contexto, a divisão do filme em atos com a imagem acima, anunciando a potencialidade de chuva faz muito sentido pelas seguintes razões:

- Pode ser uma analogia muito bem feita a oitava praga do Egito, a "saraivada", das chuvas de pedras.

- Simbolicamente no cinema, a chuva representa um sinal de redenção, é aqui no filme não é diferente.

- A promessa de chuvas já teria sido citada pelo jovem rapper no começo do filme, aonde ele diz: "Quando a luz e o sol não funcionam, o bom Deus traz a chuva".

Por ai dá pra ver que Paul é  brilhante até na construção de atos do filme, brincando com a estrutura narrativa (as previsões do tempo sempre aparecem quando se inicia um novo ato) e fazendo alusão ao estado emocional dos personagens.

O primeiro ato é para apresentar um pouco da situação caótica e culposa em que se encontram os personagens, por tanto, vou tentar abordar cada núcleo com calma para assim aproveitarmos mais sobre todos os personagens:



Earl Partrigde/Linda/ Phil Parma/ Frank Mackey:

Ao que tudo indica, Earl Partrigde (brilhantemente interpretado por Jason Robards, aonde esse seria seu ultimo filme) é o dono de uma grande companhia de televisão, e o filme já se inicia com ele no seu leito de morte com câncer. Inicialmente não sabemos, mas Earl tem toda uma relação mal resolvida com seu filho Frank Mackey, filho esse que o mesmo não vê a mais de 10 anos, e pede para Phil (o grande Philip Seymour Hoffman) restabelecer esse contato e tentar promover um último encontro entre os dois. No meio disso tudo, ou pelas margens, esta Linda Partrigde (Julianne Moore), esposa de Earl e que esta se colapsando por ter casado com o bilionário somente por causa de seu dinheiro, se sensibilizando agora pela situação e até passando a ama-lo.


No outro lado temos Tom Cruise interpretando Frank Mackey, filho de Earl Partrigde. O mais engraçado desse personagem que apesar dos pesares tem uma carga dramática altíssima (pra mim sendo esse o melhor filme da filmografia do ator), e que ele em si é uma síntese perfeita e uma sátira a figura do próprio Tom Cruise nos anos 90, que apesar de já ter mostrado seu valor como profissional em alguns longas como Rain Main e De olhos bem fechados, ainda carregava o estereotipo máximo de masculinidade dos filmes de ação do fim dos anos 80 - começo dos 90. É o ideário também desses homens que começaram a aparecer nos anos 90 tentando destrinchar o comportamento feminino para jovens tímidos e tomando isso para transformar rejeição num comércio.

Claudia/ Jimmy Gator/Rose Gator



Esse núcleo esta muito nas entrelinhas interligado ao núcleo dos Partridge, por que a família Partrigde patrocina o programa de Jimmy Gator, "What do Kids Know?". Jimmy também já esta morrendo, com o câncer já o atingindo nos ossos, e tenta resgatar qualquer possibilidade de relacionamento com Claudia, sua filha que esta enterrada na heroína e jogada aos trapos. Os detalhes mais sutis que fazem referência ao trauma que experimentou quando mais jovem, estão no começo do filme por exemplo quando Claudia vai se deitar com um homem bem mais velho do que ela, já evidenciando as marcas que o passado lhe deixará.

A frase genial de Jimmy Gator, "talvez já tenhamos passado pelo passado, mas o passado ainda não passou por nós" serve não somente para sintetizar brilhantemente o núcleo da sua família, mas assim como todos os outros personagens do filme.

Stanley Spector/ Donnie Smith



Pra mim um dos núcleos mais interessantes do filme. É interessante notar a principio, como o símbolo da contabilidade fica ao lado de Stanley, e em alguns momentos do longa as asas ficam quase sobrepostas sobre sua cabeça, fazendo uma clara alusão a uma frase que um dos personagens diz durante a projeção: "É perigoso confundir crianças com anjos!". E as asas também significam diligência, oque contextualmente falando é muito condizente com o programa e a situação dos participantes.



Donnie Smith (William H. Macy, um dos meus atores preferidos) é uma criança prodígio que participou do mesmo programa que Stanley faz parte, só que uns 20 anos atrás. O papel dos personagens no filme são como reflexos de ambas as realidades (Stan está trilhando quase o mesmo caminho que Donnie), porém tomando desfechos diferentes. Donnie se sente aprisionado em sua própria vida pois de fato, nunca tinha vivido nada que lhe pertencesse realmente. É muito inseguro enquanto sua aparência e sua personalidade, isso por conta da exposição que sofreu quando era jovem, o transformando num homem que é a figura pálida de seu passado de explorações. Com tudo isso, Donnie externaliza seus medos e introspecções em arquétipos que a sociedade nos vende como válidos, como o sorriso perfeito, e é através desse fascínio que ele chega a conclusão que a causa de toda sua infelicidade são seus dentes (como ideário máximo de admiração está o jovem barman Brad, que antes de ter um aparelho corretor nos dentes, esta conversando e até flertando sutilmente com um senhor no balcão). "Um homem que era um desânimo, e que trazia desanimo as outras pessoas também", assim é descrito Donnie em uma das cenas por um dos personagens.

O núcleo dos personagens também pode ser interpretada como uma crítica alva ao showbisnesses que explora a diligência e a renúncia das pessoas, sejam elas crianças ou adultos, para sustentar a mediocridade do espectador, e depois quando atingem esse ponto dispensam e inutilizam os produtos que criaram os transformando em meras mercadorias. Donnie Smith já está velho, mas ainda é tratado como uma criança quando vai ao dentista (uma das cenas iniciais). E ai cabem vários paralelos com a realidade, pois há mais de Donnie Smith em nós do que qualquer outro personagem: estamos vivendo e assumindo o controle de nossas vidas ou sendo controlado e vivendo pelas consequências de terceiros ? Como diria Hamlet:
"O pecado dos pais recaíra sobre seus filhos".

Ainda sobram os personagens interpretados por John C. Reilly (outro grande ator) e o pequeno rapper, que se auto-intitula de "o profeta".

                                         Segundo ato

O segundo ato não tem seu começo marcado com a tela da previsão do tempo (esta só irá aparecer no final dele), porém acho que é possível ser minucioso na hora de dizer aonde ele começa.

Ele começa com o discurso emocional de Earl Partrigde, que basicamente diz que precisamos nos arrepender mais durante a vida. Se você não se arrepender, você só estará proliferando toda a situação e todos aqueles sentimentos. O filme deixa claro que talvez, o individualismo e o orgulho destrutivo são as piores qualidades de um ser humano normal, já que os afasta dos que o amam e aos poucos nos transforma em algo que é odiado. Ao meu ver toda montagem do filme e a atuação magistral de Jason Robbards durante esta cena, deveria pelo menos lhe render um Oscar (o que teria sido a maior das homenagens já que o ator morreu 1 ano depois do lançamento do longa). Sempre me emociono com a veracidade do texto e a atuação do de Jason.

O segundo ato em si é importante pois fazendo novamente a analogia a Êxodo, é como se os personagens do filme ainda estivessem com seus corações endurecidos (como o Faraó), porém agora não dava mais pra fugir da situação. Não dava mais para contornar ou simplesmente empurrar pra debaixo do tapete, porque as coisas tinha atingindo proporções gritantes e quando as coisas chegam nesse ponto, elas começam a te sufocar pouco a pouco... é um ato clássico de desenvolvimento narrativo e serve para mostrar que os personagens reconhecem os problemas mas ainda não vão enfrenta-los totalmente.




Eis o fim do segundo ato e o começo do último. Reparem na placa ao lado esquerdo da imagem com a palavra Êxodo e citando os versículos cuidadosamente.

Aos 2:45:29 até 2:45:31, uma placa aparece com os dizeres "Everthing must go", e pouco depois disso...

" DEPOIS disse o SENHOR a Moisés: Vai a Faraó e dize-lhe: Assim diz o SENHOR: Deixa ir o meu povo, para que me sirva.

Acho engraçado essa parte do filme, pois se você procurar explicações na internet, vai ver até que muitas pessoas apenas dizem que "o diretor quis por uma chuva de sapos pra chocar, foi só por isso. Parem de procurar pelo em ovo". Mais contraditório impossível, pois o filme vem pra provar o contrário: coincidências não existem.

A chuva de sapo acontece como a "última praga", metaforicamente, um último sinal para rendenção.

As coincidências ? E a conclusão

Não irei dissertar mais sobre a música que o pequeno rapper canta no começo do filme, porque o texto já esta grande demais e existem muitos sites por aí com teorias sobre isso, cada teoria com suas qualidades. Mas o que é fato ao meu ver é: o menino era realmente  uma metáfora ou algo divino.
Prefiro acreditar que era uma metáfora para algo divino. A cena que me faz crer nisso é essa aqui:


Como vocês sabem, a pistola estava nas mãos do pequeno rapper, que a pegou enquanto Jim Kurring fugia dos tiros do "The Worm". Jim diz se sentir humilhado e impotente sem sua arma (alusão a sua masculinidade) e que todos estavam rindo dele por isso. Inexplicavelmente nos ultimos minutos de filme temos essa cena aonde a pistola cai do céu, do nada.
Somando a essa teoria também podemos dizer que o pequeno rapper salvou Linda Partrigde e 'revelou' a identidade do "The Worm", segundo ele próprio.

Acho que o que Paul quis dizer com isso é que nas nossas vidas não existe casualidade. Seja Deus, ou o que quer que seja, existe uma inteligência onipotente regendo as coisas por de trás dos panos, e isso se manifesta nas menores coisas que se transformam em grandes atos, como a entrada de uma pessoa na sua vida. Pode ser uma pessoa que virá a ser sua amiga numa escola, um futuro grande amigo de trabalho, uma futura esposa ou um bom marido... a vida lhe proporciona sempre 'pequenos anjos', que são essas pessoas que cruzam nossos caminhos através do que eles acreditam ser uma coincidência, e cada vez mais fazem parte de nossas vidas nos salvando de nós mesmos. O que seriamos nós senão tivessemos nossos amigos? Nossos pais ? Nossos amores ? Nossos sonhos ?

Jimmy Gator morre quase que como uma nova ilustração dos fatídicos e estranhos assassinatos que são descritos no começo do filme. Ao disparar o gatilho, o aperta duas vezes por reflexo e na segunda acerta uma pequena televisão (o que é simbolicamente a libertação do personagem de algo que lhe angustiava e aprisionava já há muito tempo).
Há uma pequena passagem durante a chuva de sapos, aonde Stamley aparece rapidamente é podemos notar algumas coisas:

No cartaz ao lado direito da imagem, temos os números (5-8, 7-8). Uma breve pesquisa bíblica nos revela os seguintes trechos:

Matheus 5:8
" Bem aventurados os limpos de coração, porque eles verão Deus".

Eclesiastes 7:8
"Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito."

Bom, como diria um personagem durante a projeção, não é perigoso confundir crianças com anjos, porque talvez elas realmente sejam anjos. Se existe um personagem sem mágoas aparente apesar de ter vivido uma situação desconfortável, esse é Stamley. Stamley também é o único personagem que parece não enxergar com medo o evento da chuva de sapos, pois simbolicamente poderia estar enxergando outra coisa ao redor disso tudo...
E bom, a passagem de Eclesiastes é uma mensagem geral. Diz que o que importa realmente é como as coisas irão terminar e não como elas começaram, o que é uma nítida alusão a redenção de todos.


Linda Partrigde esta no hospital após a tentativa de suicídio, e é visitada por Frank, que ao que tudo indica durante o filme, não nutria bom relacionamento com a mesma. 
Donnie Smith compreende seus problemas e vê o quão ridículo soava sua tentativa de ser feliz externalizando todos os seus desejos em besteiras. Em um dialogo emocionante, o roteiro ainda brinca com a possibilidade real de Donnie ser apaixonado pelo Barman Brad, ou simplesmente não: como o mesmo diz, ele não sabe diferenciar doença de paixão.

E ai sobram personagens como Phil e Jim Kurring... como disse acima, esses pra mim são os 'pequenos anjos' que a vida nos concede. Phil e Kurring metaforicamente tem esse papel de ligação, de vínculo com o passado e uma possível tentativa de melhora, de arrependimento. São pessoas que pelo acaso ou não, foram ou estão inseridas na vida de outros, e estão tentando melhora-las porque as amam, principalmente o personagem dócil e companheiro de Phillip Seymour Hoffman.

Houve algumas críticas especializadas em torno dos tópicos do filme, pois muitos acreditam que o filme ataca para todos os lados, nunca indo fundo em um assunto (o que eu tenho que discordar ferrenhamente, por tudo que expus acima).

Pra terminar, o filme reforça: se Claudia foi capaz de deixar que tudo se fosse, tendo passado pelo que passou, você também pode. E a única forma de se salvar é perdoando e amando ao próximo.

"Você pode perdoar uma pessoa. Essa é a parte difícil. O que podemos perdoar ? Esse é a parte difícil. A parte difícil de andar pelas ruas"




Outras informações:
Magnolia custou aproximadamente 37 milhões de doláres e fez por volta de 60 milhões mundialmente.

Algumas curiosidades sobre o filme:
http://www.imdb.com/title/tt0175880/trivia?tab=gf&ref_=tt_trv_gf